Para não deixar que a filha de 3 anos fique longe dos estudos, Juracir
Ferreira Faustino de Souza adaptou uma bicicleta e pedala diariamente
quase 40 quilômetros para levar e buscar a criança da zona rural até a
escola, no Jardim Cruzeiro do Sul, em São Carlos
(SP). Segundo a Secretária de Educação, a menina tem direito ao
transporte escolar, mas por ter menos de 6 anos, precisa estar
acompanhada por um responsável.
Maria da Vitória dos Santos Rocha está matriculada no Centro Municipal
de Educação Infantil (Cemei) Otávio de Moura. Segundo o pai, um ônibus
que leva as crianças da zona rural para a escola passa próximo a
residência dele.
(Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)

“Não sei o motivo já que o ônibus passa na porta, pega meu sobrinho,
mas não pega ela. Eles alegam que não podem levá-la porque ela ainda não
tem quatro anos, a diferença é de cinco meses apenas”, disse.
Souza, natural da Paraíba, está desempregado e mora com a família há
três meses em São Carlos, em uma fazenda às margens da Rodovia Professor
Luis Augusto de Oliveira (SP-215).
O trajeto de ida, que começa por volta das 5h20 e dura uma hora e meia,
passa por estrada de terra, rodovia e trânsito urbano. Depois de deixar
a filha na escola, o pai retorna para casa e faz novamente o trajeto no
final da aula, para buscar a menina. “Quero dar a ela o que eu não
tive, porque eu não tive essa oportunidade”, declarou Souza.
Determinado, ele afirma que fará o percurso todo dia até conseguir uma
vaga no ônibus. “Não dá certo uma criança fora da escola, se não der
certo [o ônibus] eu continuo trazendo ela todo santo dia. Tem que ter a
escola pra criança”.
Para Souza, a alternativa oferecida pela prefeitura, que ele
acompanhasse a filha no ônibus, é inviável. “Teria que fazer um
sacrifício, que é o de ficar o dia todinho com fome na porta do colégio,
aí quando ela saísse vir embora junto”.
Rodovia faz parte do percurso que o pai enfrenta para levar filha a escola (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
Na bicicleta coberta com uma cortina de banheiro e adaptada com uma
cadeirinha para a criança, pai e filha enfrentam frio, chuva e sol, além
de correrem risco de sofrer um acidente, pois parte do trajeto é
realizado às margens da rodovia.
“Eu peguei umas madeirinhas da reciclagem e eu tinha essa cortina em
casa, aproveitei para poder proteger minha filha. Sem ônibus, eu tenho
que me virar do jeito que posso, estou seguindo em frente e vamos ver no
que vai dar”.
O caso ganhou repercussão após ser divulgado em um grupo do Facebook pela mãe de um colega de sala da criança.
A publicação ultrapassou mais de duas mil visualizações e o esforço de
Souza para que a filha não fique longe dos estudos comoveu os moradores
da cidade.
Souza acompanha a entrada da filha Maria da Vitória no Cemei (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
Em entrevista à
EPTV, o secretário de Educação, Nino
Mengatti, informou que por, não ter a idade mínima necessária, Maria da
Vitória teria que ser acompanhada por um responsável até a escola. "Nós
não podemos permitir que crianças com menos de 6 anos viagem
desacompanhadas por questões que esses ônibus não têm cadeirinha. É um
risco para a criança e a família", declarou.
Mengatti afirmou ainda que há outras crianças na cidade na mesma
situação. "Em nenhum momento a Secretaria deixou de acompanhar o caso ou
prestar assistência, o empenho nosso foi para resolver, mas isso não há
como mudar, não posso abrir uma exceção. Há milhares de pessoas
desempregadas e nem por isso deixam de acompanhar seus filhos".
Fonte: EPTV
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