“Feliz
certamente aquela a quem se lhe concede gozar desta sagrada união, para
aderir com o profundo do coração [a Cristo], àquela cuja beleza admiram
incessantemente todas as beatas multidões dos céus, cujo afeto
apaixona, cuja contemplação restaura, cuja benignidade sacia, cuja
suavidade preenche, cuja recordação resplandece suavemente, a cujo
perfume os mortos voltarão à vida e cuja visão gloriosa fará
bem-aventurados todos os cidadãos da Jerusalém celeste”.
Assim escrevia Santa Clara de Assis em uma de suas cartas a Santa
Inês de Praga. O Papa Bento XVI disse que nessas linhas poderíamos
encontrar a síntese de sua espiritualidade que, como podemos notar, está
impregnada de um amor profundo a Jesus, por um desejo de estar
totalmente entregue a Ele que a atraiu em primeiro lugar. Esse amor
continua sendo vivido por suas filhas Clarissas até hoje, nos diversos
mosteiros espalhados pelo mundo.
O Papa Francisco visitou, a pouco tempo, a cidade de São Francisco e
de Santa Clara. Assis, que se localiza a mais ou menos 200 quilômetros
ao norte de Roma, é uma pequena cidade que conserva um ambiente medieval
muito espiritual. É impossível estar ali e não se experimentar
maravilhado com as pequenas ruas que sobem, descem e se cruzam,
revelando casas e Igrejas impressionantes, de uma época em que Deus
pareceria estar presente de modo mais evidente que em nossas cidades
atuais.
"A vida de oração e contemplação leva as religiosas a serem muito
humanas, a terem uma grande humanidade, capaz de entender os problemas
do homem, capaz de perdoar suas falhas e de pedir ao Senhor por todos".
Em sua visita o Santo Padre visitou também o mosteiro das irmãs
Clarissas, onde está o corpo de Santa Clara. Nessa ocasião, relembrou e
reafirmou a importância da vocação a vida religiosa para a missão da
Igreja. A vida de oração e contemplação que leva as religiosas a serem
muito humanas, a terem uma grande humanidade, capaz de entender os
problemas do homem, capaz de perdoar suas falhas e de pedir ao Senhor
por todos. Marca dessa humanidade, diz Francisco, é a alegria profunda
que vivem, fruto dessa contemplação e de uma vida comunitária intensa.
Para quem vê a Igreja de fora, ou até mesmo para muitos de nós que
temos pouco contato com a vida religiosa, essa vocação pode ser algo
muito distante, talvez algo do passado. Mas ver Francisco conversando
com essas religiosas nos mostra que não só continuam presentes, mas que
sua presença é muito importante para a vida da Igreja. O amor que Jesus
nos convida a viver hoje é o mesmo daquela época, porque como diz São
Mateus em seu Evangelho: “O céu e a terra passarão, mas as minhas
palavras jamais passarão”.
Santa Clara de Assis viveu no final do século XII e início do século
XIII. Mas Jesus, Deus feito homem, é o mesmo que esteve com os Apóstolos
e é o mesmo que está presente hoje no meio de nós, em pleno século XXI.
Foi esse mesmo e único Amor que arrebatou seu coração e que hoje quer
arrebatar os nossos corações que muitas vezes estão fechados ou se
tornaram de pedra. Peçamos a Santa Clara o dom de poder amar a Jesus com
um coração como o dela, com todo esse fervor que demonstra em suas
cartas, porque assim como naquela época, também hoje, esse Amor é a
única realidade que pode realmente satisfazer nossos anseios mais
profundos de felicidade, de paz, de reconciliação.
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