Papa na Via-Sacra: o caminho da cruz é o caminho da vida e do estilo de Deus
O papa Francisco presidiu a Via-Sacra com os jovens, nesta sexta-feira, 29, no Parque de Blonia, em Cracóvia, durante a 33ª JMJ que acontece na Polônia. O tema da celebração com o papa foi “Via-Sacra, Via da Misericórdia”.
A alocução do pontífice, feita no fim da Via-Sacra, começa com as
seguintes palavras de Jesus: “Pois eu estava com fome, e vocês me deram
de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e
me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava
doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me
visitar’.”
Estas
palavras de Jesus vêm ao encontro da questão que muitas vezes ressoa na
nossa mente e no nosso coração: «Onde Deus está?» Onde Deus está, se no
mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas, sem abrigo,
deslocadas, refugiadas? Onde está Deus, quando morrem pessoas inocentes
por
causa
da violência, do terrorismo, das guerras? Onde Deus está, quando
doenças cruéis rompem laços de vida e de afeto? Ou quando as crianças
são exploradas, humilhadas, e sofrem – elas também – por causa de graves
patologias? Onde Deus está, quando vemos a inquietação dos duvidosos e
dos aflitos na alma? Há perguntas para as quais não existem respostas
humanas. Podemos apenas olhar para Jesus, e perguntar a Ele. E a sua
resposta é esta: «Deus está neles», Jesus está neles, sofre neles,
profundamente identificado com cada um. Está tão unido a eles, que quase
formam «um só corpo».
“Foi o próprio Jesus que escolheu
identificar-Se com estes nossos irmãos e irmãs provados pelo sofrimento e
a angústia, aceitando percorrer o caminho doloroso para o calvário. Ao
morrer na cruz, entrega-Se nas mãos do Pai e leva consigo e em Si mesmo,
com amor de doação, as chagas físicas, morais e espirituais da
humanidade inteira. Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a
fome, a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de
todos os tempos. Nesta noite, Jesus e nós, juntamente com Ele, abraçamos
com amor especial os nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Os
saudamos e acolhemos com fraterno afeto e simpatia”, disse ainda o Santo
Padre.
Repassando a Via-Sacra de Jesus, descobrimos de novo a
importância de nos configurarmos a Ele, através das 14 obras de
misericórdia. Estas nos ajudam a abrir-nos à misericórdia de Deus, a
pedir a graça de compreender que a pessoa, sem misericórdia, não pode
fazer nada; sem a misericórdia, eu, tu, nós todos não podemos fazer
nada. Comecemos por ver as sete obras de misericórdia corporais: dar de
comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar
pousada aos peregrinos,
visitar
os enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos.
Somos chamados a servir Jesus
crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em
quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente,
desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita,
encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O
próprio Jesus nos disse, ao explicar o «Protocolo» com base no qual
seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos irmãos mais
pequeninos, fazemo-lo a Ele.
Às obras de misericórdia corporais
seguem-se as obras de misericórdia espirituais: dar bons conselhos,
ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes,
perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso
próximo, rezar a Deus pelos vivos e defuntos. A nossa credibilidade de
cristãos é colocada em jogo no acolhimento da pessoa marginalizada que
está ferida no corpo, e no acolhimento do pecador que está ferido na
alma.
Hoje a humanidade precisa de homens e mulheres,
particularmente jovens como vocês, que não queram viver a sua existência
«a metade», jovens prontos a gastar a vida no serviço gratuito aos
irmãos mais pobres e mais vulneráveis, imitando Cristo que Se doou
totalmente para a nossa salvação. Perante o mal, o sofrimento, o pecado,
a única resposta possível para o discípulo de Jesus é o dom de si
mesmo, até da própria vida, à imitação de Cristo; é a atitude do
serviço. Se alguém, que se diz cristão, não vive para servir, não serve
para viver. Com a sua vida, renega Jesus Cristo.
Nesta noite,
queridos jovens, o Senhor renova a vocês o convite para se tornarem
protagonistas no serviço; Ele quer fazer de vocês uma resposta concreta
às necessidades e sofrimentos da humanidade; quer que sejam um sinal do
seu amor misericordioso para o nosso tempo! Para cumprir esta missão,
Ele aponta a vocês o caminho do compromisso pessoal e do sacrifício de
vocês próprios: é o Caminho da cruz. O Caminho da cruz é o caminho da
felicidade de seguir a Cristo até ao fim, nas circunstâncias
frequentemente dramáticas da vida diária; é o caminho que não teme
insucessos, marginalizações ou solidões, porque enche o coração do homem
com a plenitude de Jesus. O Caminho da cruz é o caminho da vida e do
estilo de Deus, que Jesus nos leva a percorrer mesmo através das sendas
duma sociedade por vezes dividida, injusta e corrupta.
O Caminho
da cruz é o único que vence o pecado, o mal e a morte, porque desemboca
na luz radiante da ressurreição de Cristo, abrindo os horizontes da vida
nova e plena. É o Caminho da esperança e do futuro. Quem o percorre com
generosidade e fé, dá esperança e futuro à humanidade.
“Naquela
Sexta-feira Santa, queridos jovens, muitos discípulos voltaram tristes
para suas casas, outros preferiram ir para a casa da aldeia a fim de
esquecer a cruz. Pergunto-lhes: Nesta noite, como querem voltar para
suas casas, seus locais de alojamento? Nesta noite, como querem voltar a
se encontrar com vocês mesmos? Cabe a cada um de vocês dar resposta ao
desafio desta pergunta”, concluiu o Papa Francisco.
Fonte: Rádio Vaticano
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