Representantes
das diversas atividades da Pontifícia Obra da Propagação da Fé (POPF)
estão reunidos entre os dias 09 a 13 de dezembro, na sede das
Pontifícias Obras Missionárias (POM), em Brasília (DF), para a sua VIII
Assembleia Nacional. O evento tem como tema central uma reflexão sobre a
cultura do Bem Viver.
Gilberto
Vieira, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), coordena as
atividades do encontro e trabalha a ideia em torno da cultura do Bem
Viver por meio de dinâmicas, partilhas de experiências e reflexões com
os participantes.
O conceito do
“Bem
Viver”, filosofia indígena do Sumak Kawsay, foi incorporado nas
constituições de países como o Equador e a Bolívia e representa uma
importante contribuição dos povos originários para a crise atual. Em
linhas gerais prevê: vivência em comunidade, onde todos se preocupam com
todos, incluindo viver em equilíbrio com o meio ambiente.
A
natureza é sujeita de direitos, e essa tem sido a premissa para a
reflexão do tema. A discussão em torno do Bem Viver já vem sendo
amadurecida há alguns anos, através de diálogos com os povos indígenas
na questão da natureza, preservação do território e a dimensão da vida.
De
acordo com Gilberto, o Bem Viver não está pronto. É algo em ‘Construção’
feita a partir da contribuição dos povos indígenas, que também
começaram a discutir o que seria esse conceito para eles, pois está na
raiz de toda sua cultura. “É o povo que em sua vivência, pesca somente o
que vai consumir e não o rio inteiro.”
“O que
temos buscado amadurecer é a necessidade de aprofundar o discurso, dado o
limite ambiental, seja dos recursos de água, do processo de
desenvolvimento. Voltar a olhar não só a natureza como recurso, mas algo
que precisa ser cuidado. A encíclica papal Laudato si’ traz isso de forma bem intensa. E temos feito essa provocação,” destaca Gilberto.
A
assembleia tem permitido fazer esse caminho com os jovens e aprofundar a
reflexão. “Precisamos nos sentir corresponsáveis nesse processo e
repensarmos os recursos de desenvolvimento com pessoas inseridas em
diversas realidades.”
A
questão da urbanização intensa, problemas ambientais decorrentes da
poluição; do consumismo exagerado e da exploração dos territórios. Essa
discussão busca amadurecer a perspectiva do Bem Viver e vem sendo feita
nos diversos espaços e com consideráveis avanços, ressalta Gilberto,
“temos aprofundado o assunto durante a Semana dos Povos Indígenas, que
ocorre anualmente e por consequência nos trabalhos que fazemos nas
escolas, igrejas e nos regionais do Cimi.”
Na manhã
desta quinta-feira (10) ao introduzir o tema, o assessor questionou os
participantes da assembleia: “ Vocês vivem bem?” As respostas foram de
encontro ao tema – “Não posso estar bem se o outro está sendo explorado,
se é escravo e não tem o necessário para viver.” Os coordenadores da
Juventude Missionária levantaram muitas questões referentes ao modo de
vida imposto pelo sistema capitalista neoliberal e pela sociedade do
espetáculo e consumo pautada pelo lucro.
No
período da tarde os jovens fizeram uma dinâmica de grupo, onde foi
solicitada a indicação de um texto bíblico referente ao tema. Um dos
grupos liderado por Solivan Altoé escolheu a passagem de Mateus 6,25
para iluminar a reflexão. “Nos tempos modernos, o pensamento humano
enxerga como uma lei o consumo inconsciente, sem limites. A regra é
produzir para outros consumirem. Diante disso, construímos uma sociedade
descartável, insustentável e exploradora”, relata o jovem ao fala
r do mal viver.
“Por
outro lado, a cultura do Bem Viver nos ensina a buscar somente o
necessário. Educa homens e mulheres a viver com espiritualidade, construindo relações harmoniosas entre as pessoas, o ambiente e o cosmo,” define o grupo.
Sobre o
Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado hoje, Gilberto Vieira
considera que já foram dados passos importantes, mas existe uma intensa
dicotomia na sociedade que impõe alguns limites na caminhada. “Vivemos
sempre no limiar das contradições. Hoje estamos com um processo de forte
ataque aos direitos dos índios e dos quilombolas. O desrespeito da
educação diferenciada, paralização das demarcações, exploração ilegal
dos territórios”, avalia.
“A
sociedade tem se organizado e caminhado para viver bem nessa casa comum.
Mas ainda temos uma longa estrada a percorrer,” disse Gilberto.
O
encontro segue até domingo (13) com diversas atividades e a definição do
planejamento para 2016, quando os coordenadores trabalharão com os
grupos o tema do Bem Viver.
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